O Projecto

pelos que andam sobre as águas do mar

UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR: teatro/documentário/antropologia

POR Vanessa Amorim (antropóloga. bolseira FCT)

Que relatos e que retratos podemos traçar hoje, à luz do século XXI, sobre a
história e as estórias das gentes e do mar? Que paisagens litorais se podem desenhar e dar a conhecer?

Pensar e produzir sobre as pescas é hoje um grande desafio. Com frequência caímos na tentação de evocar a actividade como tradicional, por oposição a um outro conjunto de usos do mar. Consequentemente, também fruto da evolução das pescarias nacionais nos últimos anos e da febre patrimonialista que emergiu, as pescas são abordadas como se não tivessem um presente. Pescadores são descritos como sendo emblemas de um passado.
Todavia, pensar a pesca hoje exige um esforço maior do que sentenciá-la e cristalizá-la. Pensar as pescarias, hoje, deve partir, antes de mais, das pessoas que a compõem. Deve partir de um diálogo que confronte os actores desta realidade - que não são só pescadores - e os demais interessados no tema.
Uma abordagem multidisciplinar permitirá explorar diferentes linhas de uma mesma
realidade. Porque a pesca é antes de mais um fenómeno humano, que encerra em si
um conjunto de particularidades socioculturais, mas que, pelo meio onde é
desenvolvida e pelos imaginários que foi criando, concentra em si, um conjunto de
características passiveis de um aproveitamento estético.
E porque a arte sempre foi mais do que uma forma neutra de expressão dos valores
estéticos, a pesca pode ser pensada através da linguagem artística que, bebendo dos
conhecimentos da antropologia, pode, e deve, contribuir para uma melhor compreensão deste meio.
Raul Brandão não surge por acaso. Brandão, na sua obra Os Pescadores, conseguiu
fazer uma ligação entre a etnografia, antropologia e a arte. De forma poética soube
abordar a pesca, não descurando de uma visão crítica, informada e reflectida sobre a
realidade que então encontrara.
Que encontramos nós em 2016? Uma pesca que existe, que tem presente. Que merece
mais do que ser representada como uma evidência do passado. E é aqui que o teatro e o documentário, feitos a partir das comunidades e com o apoio das práticas e do olhar antropológicos, poderão suprir essa lacuna e trazer o projecto de Brandão, de forma ainda mais abrangente a nível artístico, para os dias de hoje.



 

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